27 de outubro de 2007

Perdeu o Rolex? Vá reclamar na mídia!

Por Fábio Reynol

Tudo começou num cruzamento do Itaim-Fonfom, na capital paulista. Os dois sócios do ramo de comércio de produtos ilegais trafegavam felizes e quase tranqüilos quando foram instigados pelo brilho no pulso de um passageiro de um veículo topo de linha. Como bons businessmen, avaliaram na hora o produto e agarraram a mão do sujeito e a oportunidade do negócio. Encostaram a moto assim que o carro do cliente parou no semáforo:

- Por gentileza – chamaram o dono do relógio – o senhor não estaria interessado em trocar esse seu magnífico e caro relógio de pulso pela sua vida?

- Como não, meus senhores. Ei-lô aqui – respondeu o rapaz, quase satisfeito por trocar um Rolex de dez mil reais pelo direito de continuar vivendo e apresentando programas aos sábados à tarde.

Essa seria mais uma dentre milhares de transações criminosas na maior cidade do Brasil, não fosse o fato de o dono do humilde relógio ser um apresentador de TV famoso casado com uma também famosa apresentadora e pai de quase dois famosinhos ainda não-apresentadores. O caso foi parar nos jornais porque o apresentador disse que o relógio fora presente da apresentadora, a quem ele chamava de “meu bem” (a apresentadora, não o relógio, apesar de este ser inegavelmente um bem).

O bem subtraído (e não aquele com que se casou) virou moeda forte no mercado clandestino do pó, ajudando a movimentar o maior PIB municipal do Brasil. O apresentador voltou ao camarim onde recebeu cartas solidárias de todo o país e a promessa de que ganharia outro relógio idêntico, pois não seria por meros dez mil que ele deixaria de ver as horas. Mas àquela altura o angu já estava quente, a comoção popular foi às ruas exigir uma resposta das autoridades.

Vários outros proprietários de Rolex roubados se juntaram para fundar uma associação. A eles se uniram o Clube dos Abonados com Cartiers Furtados e a Fundação das Vítimas de Montblancs Desaparecidas. Não demorou muito para o movimento agregar os Ex-proprietários de Calotas de Jaguars Roubadas e os integrantes da DNDD (Donos de Nikes Deixados Descalços). A alta sociedade logo percebeu que se não fizesse algo, ela continuaria sendo assaltada tal qual a patuléia. Uma inaceitável falta de respeito com aqueles que consomem todo o caviar Beluga e todas as garrafas de Chateau Le Pin importados pelo país.

Pressionado, o governo decidiu agir. Assim nasceu a primeira Delegacia Especializada em Operações contra Roubo de Abonados (DEORABO). Ao contrário das demais delegacias que não têm dinheiro nem para o cafezinho, na DEORABO a vítima presta depoimento tomando um pró-seco italiano e petiscando um legítimo foigrois francês. Na DEORABO os milionários são atendidos por outros endinheirados, os únicos que sabem o que é perder um Rolex de dez mil reais, uma caneta Montblanc de 50 mil dólares ou um par de chinelos de 80 mil. Perdeu sua LandRover de 400 mil e não quer prestar queixa entre os que perderam um fusquinha? DEORABO. Ficou sem a tela de plasma de 55 polegadas do iate? DEORABO. Um catamarã fechou o seu jetsky em Angra? DEORABO. Graças a essa maravilhosa iniciativa, o cidadão comum brasileiro e assaltado pelo bandido e pelo governo pode aconselhar o milionário que choraminga na mídia a perda do Rolex querido: “DEORABO”!

Um comentário:

Humberto Callegari disse...

Marcio seu comentario foi simplemente fantastico, é bom saber que eu não estou sozinho nos meus pensamentos. " ELES QUE VÃO PARA O DEORADO"