24 de setembro de 2014

E por falar em saudade

Você já se pegou perdido em memórias que nem se lembrava mais? Essa é a vida te pregando mais uma peça. Meio que querendo dizer: É, você não vai esquecer isso tão fácil...
A menina que usava saia ganha de presente lá da Bahia. E aquele pôr-do-sol, aquela lua. E aquelas mensagens. As palavras de saudade deixadas numa folha de caderno escritas à bic. O cheiro dela que ficou no cobertor. A risada dela enquanto falava ao celular. Uma música no rádio da Adele. Crises de ciúmes (de ambas partes). Conversas que duraram uma noite inteira e quando acabou já era dia.

E daí eu gosto de brincar, dizendo que as estrelas são nossos segredos e nossas lembranças. De todo mundo. Por isso tem zilhões de estrelas. Afinal, todo mundo tem segredos. Todo mundo guarda lembranças. As constelações são quando as pessoas decidem compartilhar segredos e lembranças. Eu acho que, quando você ama uma pessoa você conta tudo pra ela. As coisas boas e as ruins também. Ela te ama cara, ela vai aguentar isso e não vai te amar menos porque soube de um deslize seu. Você conta todos os segredos pra ela, como se ela fosse seu baú. É dever dela guardar tudo direitinho. E trancar esses segredos e lembranças, como se fossem dela mesmo.
A gente fotografa tudo, bem no fundo mesmo. Deixa guardado. É incrível. E não adianta, se foi bom vamos guardar. Vamos sentir o cheiro ainda. Vamos ter aquele frio na barriga sem explicação. Vamos ter deja-vus inusitados. Vamos ter sorrisos, muitos sorrisos espontâneos. Devaneios. Sonhos. E por incrível que pareça, sonhos.
E hoje, ao colocar minhas meias pela manhã não fazia idéia como o dia ia acabar. Bem, você me deixando escrever sobre você já é uma coisa muito boa. E, você nem sabe que é sobre você, mas você deixa. Põe a mão no meu ombro, coloca a xícara sobre a mesa. Beija minha cabeça, acaricia meu cabelo. Olha pra mim e me dá um sorriso daqueles. Você sabe que eu gosto disso. Você não me interrompe entre uma palavra e outra, mas sabe... Só por você estar aqui já me faz feliz. Esperar eu escrever é outra grande coisa.
E agora, vista as meias, senta aqui no sofá e traga a coberta quente. Não deixe ninguém entrar em casa hoje. Vamos ficar aqui na sexta, no sábado e no domingo também. E o que importa? Minhas lembranças cabem em um click. Minhas lembranças são minhas lembranças. E você, por hoje é a melhor de todas elas. Porque você insiste em aparecer em uma nova lembrança toda manhã. Eu penso em você todo dia. Eu penso em você toda tarde. Eu penso em você toda noite. Se tornou a melhor parte do meu pensamento.
São 3 da manhã, eu só queria escrever sobre você um pouco mais.

Adaptado do post.

11 de setembro de 2014

Resposta ao Tempo (Aldir Blanc/Cristovão Bastos) Feat. Nana Caymmi

Cantada por uma das mais belas vozes da MPB, esta canção mostra quão pode ser a noção de cada um sobre esse implacável elemento cósmico, o tempo. Nas entrelinhas do tempo e dos fatos,  a composição traceja uma série de confissões e declarações capazes de revelar que o tempo está em tudo. Afinal, só o tempo faz tudo estar a qualquer segundo ou eternidade.

Respeito, afrontas, fraqueza e coragem. Escolhas ou simples acontecimentos? É, diante do mensageiro dos instantes, é bem provável que sejamos esmagados pela virtude ou tragédia tecida pelos seus fios, e as vidas, essas pequenas pedras nas quais ele rola em ritmo próprio, bem que dariam um bom esboço do que fazemos com os acasos que temos pela frente.
Inimigo inquisidor e injusto? Aliado fiel e compreensivo? Altruísta ou libertador? São tantos julgamentos...coitado do tempo. Já ouviram aquela expressão "Cada um tem seu tempo"? Certamente, bem usada por aí. Assim como as frutas das árvores, estamos ou não “no tempo”. E tem tempo para tudo: Prá isso, para aquilo, prá mim, você, pra mudar, deixar de ser, crescer, aparecer, merecer, adoecer...



“No fundo é uma eterna criança..que não soube amadurecer...eu posso e ele não vai poder me esquecer”...

O negócio é que quanto mais falamos, reclamamos, pedimos, ansiamos ou esperamos, mais próximos estaremos das vicissitudes inesperadas e dadivosas do tempo. É pelas vias do tempo que se é possível preparar-se para um grande amor, recordar uma canção doce ao pé do ouvido, ou até mesmo embalar-se numa rede vagarosa à beira-mar quando a maresia, orquestrada pelos ventos do tempo nos traga algum perfume que ficou para trás, um cheiro ou sabor especial de alguém que se foi ou que virá... Quem sabe? Novamente, só o tempo irá dizer.

Amar pela segunda, terceira, quarta vez? quem sabe? acredito também que só com o passar do tempo nos daremos esse direito ou talvez...não. De qualquer forma, ele precisa passar por nós, pelas nossas vidas e pelas escolhas que constroem os caminhos. Nesta canção, o autor deixa claro a lucidez de todo seu manifesto, carregado de doses extremadas de puro romantismo, num embate heroico e comovente pela vida, uma verdadeira declaração de amor ao tempo.

Resposta ao tempo 
Composição: Aldir Blanc/Cristovão Bastos
Interprete: Nana Caymmi

Batidas na porta da frente é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei

Um dia azul de verão, sinto o vento
Há folhas no meu coração é o tempo
Recordo um amor que perdi, ele ri 
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei

E gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro sozinhos

Respondo que ele aprisiona, eu liberto
Que ele adormece as paixões, eu desperto
E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver

No fundo é uma eterna criança 
que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer
No fundo é uma eterna criança 
que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer