5 de agosto de 2007

Com vocês: o samba!

SAMBA = palavra que vem do quimbundo “semba” (que significa umbigada), para se referir à dança de roda, geralmente com dançarinos solistas. No século XIX, a palavra samba, como o batuque, virou sinônimo de baile popular, como arrasta-pé, bate-chinela etc. É basicamente uma mistura de ritmos africanos e europeus. Os sambas mais conhecidos são os da Bahia, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Com pequenas variações regionais, samba que é samba tem que ter violão e pandeiro, no mínimo.

O primeiro samba
O que os estudiosos consideram que seja o primeiro samba gravado é “Pelo telefone”, de 1917, uma chacota que o compositor Donga fez da corrupção policial - que já não era novidade na época - no Rio de Janeiro: “O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar/que na Carioca tem uma roleta para se jogar”, diziam os versos, zombando de Belisário Távora, acusado de conivência com o jogo ilegal. Mas antes da primeira gravação, o samba já existia nas ruas, cantado e tocado pelos negros nas festas e procissões católicas. Sabe-se que seus ancestrais são o maxixe, o lundu e a umbigada, ritmos que nasceram do batuque dos africanos. Até então, o samba era coisa de marginais.

Foi só quando ele “embraqueceu”, nos anos 20, que se tornou popular. Noel de Medeiros Rosa, o médico branco e sambista da classe média, nascido em Vila Isabel, no Rio, foi o responsável pela popularização do samba. E foi ele quem fez as pessoas perderem o preconceito. Noel viveu apenas 27 anos e deixou cerca de 200 composições. O sucesso de suas músicas, como Feitiço Decente e Com que roupa?, foi arrasador. Ainda hoje ele é citado por dez entre dez sambistas como um dos grandes mestres, ao lado de Cartola.


Não se confunda (glossário do samba)

* samba-corrido: mais comum na Bahia de antigamente, é o samba sem refrão.
* samba de breque: é sincopado e a música é cortada por paradas súbitas chamadas de breque (do inglês, break) e comentários bem humorados do cantor.
* samba-canção: melódicos, com letras românticas e sentimentais. Nasceu nos anos 20 e os discos eram lançados fora do período de Carnaval, por isso também são chamados de “samba de meio de ano”.
* samba-choro: a melodia segue o fraseado instrumental do choro (com flauta) misturado ao batuque do samba.
* samba-enredo: foi criado por compositores das escolas de samba do Rio no início dos anos 30. Traz na letra o tema escolhido pela escola para competir no Carnaval.
* samba-exaltação: as letras são patrióticas e o arranjo orquestral tem ar de grandiosidade. Um bom exemplo é Aquarela do Brasil, de Ari Barroso, gravada em 1939.
* samba de gafieira: geralmente instrumental (com muitos metais) e feito para dançar. Foi criado em 1940 pelas orquestras de gafieiras e cabarés.
* samba de morro: com pandeiro, tamborim, cuíca e surdo, foi criado por compositores cariocas que se reuniam em rodas de samba nos anos 30.
* samba de partido alto: as letras são improvisadas, tem refrões curtos e marcantes e muitas estrofes. A lógica da letra é como a do rap, com rimas de improviso. O ritmo segue o batuque do samba tradicional.
* sambalanço: mistura de samba com ritmos americanos, foi criado na década de 50 por brasileiros influenciados pelo jazz. Em 1960, evoluiu para um mix de bossa nova, maracatu, jongo e rhythm & blues, dando origem ao atual samba rock.
* sambalada: samba-canção com letras românticas e ritmo lento, parecido com o das músicas comerciais estrangeiras lançadas no mercado brasileiro nos anos 50, conhecidas como baladas. Sabe aquelas músicas lentas da Alcione?

Cartola, o mito

O compositor de samba mais lembrado e venerado é um daqueles casos de artistas talentosos que só fazem sucesso na velhice. Agenor de Oliveira nasceu no bairro do Catete, no Rio, em 1908, e com onze anos foi morar no morro da Mangueira. Ainda criança aprendeu cavaquinho com o pai e logo começou a participar das festas de rua. Conseguiu terminar o curso primário aos 15 anos. Quando sua mãe morreu, parou de estudar e já iniciou a vida de boêmio nos botecos cariocas.

Ganhou o apelido de Cartola porque trabalhava como pedreiro usando um chapéu para impedir que o cimento sujasse a cabeça. Em 1928, fundou com um grupo de amigos a Estação Primeira de Mangueira, segunda escola de samba carioca. Foi ele que escolheu as cores-símbolo da escola: verde e rosa. Depois disso, começou a ficar conhecido no meio do samba e a vender suas composições para intérpretes como Francisco Alves e Carmem Miranda.

Cedia os direitos autorais e só exigia que seu nome aparecesse nos discos. Em 1941, montou o Conjunto Carioca, que durou apenas um mês. Logo depois, Cartola desapareceu. Muitos pensaram que o sambista estava morto e chegaram a fazer sambas em sua homenagem. Diz ele que pegou meningite.

Foi reencontrado em 1956, trabalhando de dia como lavador de carros e à noite como vigia de um prédio em Ipanema. Logo depois, arrumou um emprego de cantor de rádio e voltou à cena musical. Já casado com dona Zica, sua casa virou ponto de encontro de intelectuais e sambistas de morro.

Em 1964, abriu o bar Zicartola, onde os melhores sambistas se encontravam, bebiam, cantavam e se deliciavam com a comida de Zica. Mas, como tudo o que é bom dura pouco, o restaurante logo fechou. Cartola só gravou seu primeiro LP (Cartola), em 1974, pouco antes de fazer 66 anos. O segundo disco veio sois anos depois e traz sua mais famosa canção: As rosas não falam. Em 1977 gravou o terceiro disco, no ano seguinte fez seu primeiro show solo (com quase 70 anos) e, em 1979, gravou o quarto LP.

Morreu de câncer em novembro de 1980. Quem lê uma canção escrita por Cartola não acredita que ele só estudou até o primário. Além das músicas que estão em seus três discos, o sambista tem centenas de composições espalhadas pelo Brasil. Fez muitos sambas-enredo para a Mangueira, mas seu estilo preferido sempre foi o samba-canção, aqueles sambinhas mais lentos, que falam de amor, encontros e desencontros. Como ele mesmo declarou, “eu gosto é de samba-canção. É o estilo que acho mais bonito, não gosto muito desse samba corrido”.


CDs

Indispensáveis para quem gosta:
Bebadosamba, Paulinho da Viola
O Samba é minha nobreza, vários
Cartola – Pranto de Poeta, 1989, RCA
Cartola, 1993-1994, Discos Marcus Pereira
Tudo Azul, Velha Guarda da Portela
Ao vivo, Zeca Pagodinho

As novidades:

À procura da batida perfeita, D2
Samba esporte fino, Seu Jorge
Pé do meu samba, Mart’nália
A música de Paulinho da Viola, Tereza Cristina e grupo Semente
Monobloco, Monobloco

Sites

- SAMBA CHORO
É o mais completo e o mais freqüentado por quem curte samba. Além de notícias e agenda, vende discos difíceis de se encontrar na praça. Você pode se cadastrar para receber, duas vezes por semana, um informativo com programação pelo país.

- SAMBADERAÍZ
Biografias de sambistas, artigos sobre o assunto e endereços de casas no Rio.

- SOSAMBA
Informações sobre as escolas, entrevistas, notícias, classificados e uma rádio. Traz uma boa agenda de shows e rodas de todo o país.

- BOTEQUIMDOSAMBA
Notícias e programação atualizadas, links e informações sobre as escolas.

Vi isto no SambaGroove.

Nenhum comentário: